sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

“Não” ao Estado total

Ao olharmos para o Brasil a partir do retorno à democracia, iremos constatar que muitas foram as oportunidades perdidas para a construção de uma nação de convivência realmente voltada para o bem comum.

Por incompetência ou por outro motivo qualquer, a pregação democrática não chegou a ter, em qualquer momento da história recente, o papel que se esperava no sentido de alcançar um Estado estruturado para governar segundo os legítimos interesses populares.

Os partidos políticos se organizaram para alimentar os anseios que qualificam o “poder” como o meio para a obtenção, às custas do povo, de benesses individuais. Os que procuravam assentar suas bases dentre as camadas populares, em pouco tempo inverteram seus objetivos para servir-se e não servir a essas mesmas comunidades que compõem, pela sua diversidade, a própria sociedade civil como um todo.

O resultado da luta pelo poder enquanto poder está aí à vista de todos: um País qualificado pela corrupção e pela violência.

Não importa que tenham ocorrido ganhos. Hoje muitos brasileiros comem mais. Mas essa comida lhes é dada tendo em vista ganhos eleitorais. É certo que ela em si provoca maior participação no processo social, aumentando o poder de compra, o qual, por sua vez, alimenta a indústria e o comércio. Mas isso ocorre sem que as populações favorecidas tenham alcançado a possibilidade do pensar que a educação enseja. Transformou-se o País em um imenso curral eleitoral.

Com o exemplo da corrupção, que vem de cima, esvaem-se à luz dos “mensalões” ou “mensalinhos”, os princípios éticos que deveriam nortear a atuação de quantos governam um País.

Tantos quantos ousam se opor aos desmandos dos detentores do poder, são sufocados pela imprensa que sabe, numa auto-censura pelos donos dos meios de comunicação, impedir que autorizadas vozes em contrário sejam ouvidas. Pode-se deixar passar alguma coisa, para dar uma aparência de probidade, mas não vem a público a palavra de muitos daqueles que procuraram a vida pública para nela consolidar o exemplo de um comportamento ético e moral.

E a censura não é só da mídia. Nas famílias, desencorajam-se posições que se opõem ao estado lamentável a que chegamos, muitas vezes para uma suposta preservação das pessoas em sua integridade moral. Sob esse aspecto, entretanto, esquece-se que a luta pela ética e pela moral, se não rende dividendos materiais, constrói personalidades que, embora à margem das benesses do poder, são indispensáveis para o melhor equilíbrio da sociedade.

Esses incansáveis lutadores não esperaram nunca receber vantagens ou posições. Sequer são movidos por mágoas ou outros sentimentos menos nobres, como sua irmã que é a violência. Eles têm um grande poder de perdoar. Mas sabem que perdoar não importa em esquecer suas convicções.

Já foram perseguidos por agentes do Estado, não tiveram reconhecias as suas atividades em nome do bem comum, mas, por certo, estão bem com suas consciências e convictos de que estão cumprindo com aquilo que acreditam, conforme a moral.

Podem ter mágoas, raiva ou desengano com as pessoas, mas não perdem o sentido da imparcialidade. Eles já viveram bastante e com a experiência que adquiriram nos dias mais duros de suas vidas, sabem separar sentimentos individuais para que esses não subvertam a sua liberdade de julgar. Nas suas decisões, sabem como tomá-las sem acepção das pessoas ou das posições que elas ocupam.

Pois bem, quando tudo isso parece uma utopia, pela qual não vale a pena lutar, pode-se ter a certeza de que nos aproximamos, ainda que lentamente, dos abismos do Estado total tão bem descrito por George Orwel em seu 1984.

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