segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Violência nos morros do Rio

Analisar o que está acontecendo no Rio de Janeiro não me parece uma tarefa fácil. Ao contrário, ficamos quase perplexos com o momento. As UPPs a enfrentar a resistência de grupos presumivelmente de traficantes que vêem seu comércio desfazer-se diante do afastamento popular das atividades criminosas, que pretendem manter as comunidades sujeitas ao seu comando.

Não se trata, ao que parece, apenas do tráfico, mas da venda de proteção, comércio de armas e munições, e, sem dúvida também, da prostituição.

É evidente que semelhante situação é ou era alimentada pelas milícias, com policiais e delinqüentes impondo-se ao comando dos achaques para ligar-se a determinados grupos, eliminando outros, enfim, participando em larga escala da corrupção como alimento da violência.

Quem quiser ter uma noção do que ocorre hoje na antiga capital da República, que vá assistir “Tropa de Elite 2”, que dá uma noção realista da verdadeira guerra que ali se trava, onde não se sabe quem é do bem ou quem é do mal.

Aliás, as organizações criminosas que foram instituídas a partir do “Esquadrão da Morte” do final dos anos sessenta, em São Paulo, mantêm a mesma promiscuidade entre delinqüentes e policiais e são o fruto da corrupção que não é apenas do estamento policial, mas de parcelas importantes da sociedade, no viés de obter ganhos a qualquer preço, para alimentar o consumismo que políticas públicas incentivam.

Basta olhar para as nossas instituições, para ver a que ponto chegamos.  Desde a Constituinte dos anos 86 a 88, podemos observar que os poderes da República entraram num plano inclinado, onde os partidos políticos afastam tantos quantos podem atrapalhar sua ânsia de poder para enriquecer, determinando em conseqüência o baixo nível que hoje predomina no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Tantos quantos procuram cargos nos dois primeiros, salvo naturalmente poucas exceções, não o fazem para prestar um serviço, mas para engordar os seus bolsos, atitude que encontra estímulo num Poder Judiciário subordinado e amedrontado.

É esse estado de coisas – cada um segundo seus interesses – que leva à deterioração hoje patente não só no Rio de Janeiro, como em outras grandes cidades do País, como São Paulo e etc.

Na verdade, a sociedade civil, que não está por dentro do que acontece, não sabe que direção adotar. O uso da violência para acabar com a violência não tem sido o bálsamo desejável. Atitudes equivocadas no equacionamento do problema não conseguiram encontrar o caminho hábil para o estabelecimento de políticas que possam resolver o sofrimento de meninos e meninas abandonadas, de famílias que lutam para sobreviver, enfim a situação de carência em que os brasileiros mais pobres vegetam.

Como se verifica, o assistencialismo não é a solução. As pessoas querem ser tratadas com dignidade e não como sujeito de deveres. Querem participar o que, aliás, é vedado, mesmo porque o segredo é a alma do negócio.

Ninguém sabe – e ninguém se interessa pelo que acontece na periferia das grandes cidades. A violência é expandida. E enquanto predominam o desinteresse de um lado e de outro a violência, o caos vai se implantando até o momento em que se torna incontrolável. Então, a solução é matar.

Hoje há uma certa euforia com o resultado obtido com a ocupação do Complexo do Alemão pelas forças militares e policiais.

Contudo, ninguém sabe de nada. A Folha de São Paulo de domingo passado publica o retrato de dois negociadores da ONG Afroreggae e faz referência à atuação deles. O resultado está aí: a ocupação se fez pacificamente, mas não se sabe em que condições. Ora, é preciso que se saiba de quem partiu a solicitação de negociação. A promessa da guerra cedeu passo à realidade: como explicar o massacre de mais de quinhentas pessoas à comunidade internacional? 

Em remate, é preciso que a OAB, o MP, o Judiciário, enfim todos nós sejamos informados do que realmente acontece – quais os personagens e seus objetivos – para que possamos, todos juntos, encontrar os caminhos para o estabelecimento da paz, que não deve ser apenas mais uma situação provisória. Que vá alem da intervenção feita, abrangendo o estabelecimento de agentes públicos das áreas da educação, saúde e lazer. Enfim, algo definitivo.

3 comentários:

  1. Dr. Hélio Bicudo,
    Sabedor dos princípios morais e éticos que norteiam a sua vida solicito a sua atenção em prol de uma família que sofre pela busca de seus direitos humanos em decorrência do brutal assassinato de seu filho ,José Alexystaine Laurindo menor de 16 anos que teve a sua vida ceifada nas terras de Alagoas.Para uma melhor compreensão do fato relatado,deixo um link logo abaixo.
    Atenciosamente
    Mário Augusto

    http://alagoasreal.blogspot.com/2010/12/in-memoriam-de-jose-alexystaine.html

    ResponderExcluir
  2. A situação no RJ, por descura por tanto tempo, chegou ao insuportável, em condições imposta pelo tráfico de armas e drogas, que a única saída foi a inclusão das forças armadas em apoio às instituições policiais, por impotência destas, (de acordo com a sincera entrevista do secretário da segurança pública daquele estado). Alguns, diziam que as fronteiras deste imenso país não eram fiscalizadas, contudo, penso que se os estados fiscalizassem suas fronteiras, (bem menores) inclusive marítimas e tivesse um serviço de inteligência eficiente, jamais seriam surpreendidos por tais acontecimentos. Não consigo entender como se ''forma'' um policial profissional em 4 meses, quando nas FA para a formação de um reservista de 1a. categoria é necessário no mínimo um ano de serviço obrigatório. Por outro lado, em tempos normais, vejo a segurança pública dividindo forças entre a PM e PC, causando despesas em duplicata, seja na aquisição de materiais (todos), em pessoal (inclusive comandos), encargos administrativos e com formações doutrinárias bem diferentes, quando no trabalho, uma não sabe o que a outra está fazendo, nem as estatísticas são coerentes.
    Nessas incursões, vemos nos noticiários o despreparo até para proceder buscas numa residencia, quando destroem todos os móveis daquele povo menos favorecidos, não deixando campo para qualquer perícia se necessário for.
    O contraste com essa divisão de forças, são os delinquentes que as somam, a ponto de ''comandarem'' de dentro dos presídios, os crimes praticados fora deles. Pior, os verdadeiros cabeças do tráfico, nem residem em favelas e tampouco estariam naquele estado ou até no país. - O tema é rico em fatos e seriam necessários muitos dias para que se comentasse, inclusive sobre os aviltantes salários dos policiais. Deixo um abraço ao nobre jurista.

    ResponderExcluir
  3. Precisamos cada vez mais divulgar para cada pessoa, de todas as idades, de todas nacionalidades, credos de todas faixas etárias... a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Leia matéria sobre o tema em: http://valdecyalves.blogspot.com/2010/12/direitos-humanos-declaracao-universal.html

    ResponderExcluir

Obrigado por sua participação. Talvez queira nos seguir nas redes sociais:

Twitter: http://twitter.com/Heliobicudo
Facebook (perfil 1): http://www.facebook.com/helio.bicudo
Facebook (perfil 2): http://www.facebook.com/helio.pereira.bicudo