sexta-feira, 25 de junho de 2010

Reflexões sobre os Direitos Humanos

A “Folha de S. Paulo”, em sua edição de domingo (20.06), trouxe, da autoria do escritor André Sant Anna, um texto de fazer pensar.

O tema do conto, como explica o próprio autor à Folha.com, é o “imbecil anônimo” da internet, que embora acredite ter opinião própria, está sempre repetindo idéias prontas de forças reacionárias. Mas quem aparece em primeiro plano são os direitos humanos, tema tão mal compreendido, e com tantos críticos, que torna-se o alvo ideal para o “neoconservadorismo neoliberal” do personagem.

Numa linguagem popular, o autor aborda com muito espírito o que está na cabeça de inúmeras pessoas sobre o que sejam direitos humanos: “os direitos tem que ser pra nós também, que somos cidadãos de bem, que nunca fez pedofilia”.

Essa idéia de que direitos humanos significa defender bandido, na verdade, vem de longe. É estimulada, pelo menos há cinqüenta anos, quando os programas matutinos de rádio – ouvidos por trabalhadores que saem de suas casas ainda de madrugada para ganhar o pão de cada dia – incitavam os nossos operários a se engajarem na luta contra tantos quantos, brasileiros ou gringos, teimavam em tomar o partido das vítimas da violência do Estado.

Essa doutrinação ganhou os resultados que hoje colhemos: direitos humanos não elegem e combatê-los dá votos.

É por isso que a violência do Estado, por seus agentes, passa a ser tolerada e, mais do que isso, desejada por alguns setores da sociedade: “Bandido bom é bandido morto”.

Não nos lembramos, entretanto, de que a violência pode também atingir a nós – “que somos cidadãos de bem, que nunca fez pedofilia” – como se pode sentir nas chacinas já esquecidas, praticadas por policiais e aprovadas por seus superiores imediatos ou mediatos, como nas mais recentes atuações da PM, quando foram torturados e eliminados dois jovens, um deles na presença de sua mãe.

E não se trata de fatos isolados, pois em Bauru, não faz muito tempo, um menino foi assassinado por policiais. Sem tetos receberam o mesmo tratamento.

Não deixa de ter razão o personagem de André Santana quando diz que direitos humanos deveriam ser direitos de todos. O que ele talvez não tenha percebido é que na concepção oficial que o influencia, todos são apenas alguns.

Ele fala nos gringos, naturalmente referindo-se às ONGS internacionais que trabalham na área dos direitos humanos, numa referência precisa à maneira pela qual se busca acender o pavio de um nacionalismo ultrapassado, excluindo, num mundo globalizado, a atuação de respeitáveis instituições que enfrentam violências no combate à violência.

Como salientei, André nos faz pensar sobre o mundo de cabeça para baixo em que hoje vivemos.

Realmente, o que nos falta, sobretudo, é educação, para podermos discernir o bem do mal. Compreender o que é a pessoa humana. Quais os valores que qualificam o homem. Por que bandido bom é bandido morto? Por que somente os pés de chinelo são eliminados ou submetidos a uma rede penitenciária que só serve para segregar e aperfeiçoar delinqüentes? Por que a ficha suja continuará a prevalecer nas eleições? Por que se quer flexibilizar os ganhos contra o nepotismo?

Tenho para mim que o conto de André abre espaços para uma reflexão mais profunda sobre os valores que vão sendo esquecidos numa sociedade consumista, onde o futebol, os shows milionários, os desfiles de modas, as baladas e o consumo de drogas afastam a moral e a ética. Onde estamos cada vez mais esquecidos do dever de todos nós, de contribuir para a construção de um Estado de cidadãos.

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