quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ainda a reforma política

O PT nasceu buscando uma verdadeira reforma política, ao construir um sistema coletivo e popular de se auto-governar, ouvindo fundamentalmente os então chamados “núcleos de base”, criados à feição das comunidades eclesiais de base instituídas pela Teologia da Libertação. Então, as decisões dos órgãos de direção partidária somente eram tomadas se aprovadas pelo conjunto da militância, quer dizer, das bases legitimamente representadas nas convenções partidárias.

Entretanto, por comodismo ou por outro fator, os núcleos foram entregando o seu poder aos diretórios distritais, já burocratizados, e estes o entregaram ao diretório nacional que, por sua vez, submeteu-se à vontade daquele que se colocou na posição de chefe inconteste, acima até mesmo, quando a oportunidade chegou, da presidência do partido, que se rendeu, nos casos polêmicos, à sua vontade.

Lamentavelmente, em poucos anos foram sufocadas as vozes daqueles que tentaram voltar ao início da construção partidária, alertando para o perigo de uma só voz constituir-se na instância superior do partido. Este, ao invés de reagir, entregou-se à vontade maior, que se voltava para a conquista do poder a qualquer preço, renegando os princípios adotados na construção de um partido democrático, que respeitaria as diversidades e que almejava o poder para construir uma sociedade livre e igualitária.

A esse respeito, cumpre registrar, a direção do Partido ficou na esteira da popularidade e do discurso de Lula. E este a vitimizar-se, e ao partido, numa pseudo luta pela sobrevivência – supostamente ameaçada por conchavos da imprensa e daqueles que não concordavam com a corrupção que se alastrava pelos órgãos de uma administração já dominada, sobretudo, nos canais superiores, como já acontecera no criminoso episódio do mensalão.

Agora vemos a impossibilidade de alternância ao entregar-se todo o poder para um determinado grupo, que vai desfruta-lo por longos e largos anos, sempre em prejuízo das liberdades fundamentais, como já se anuncia, e no interesse dos compadres e amigos. Alternância não é a substituição pura e simples do ator que exerce o poder; não é a substituição de Sarney por um Color, ambos jogando o mesmo jogo; mas é a de Fernando Henrique por Lula.

Na verdade, hoje não existem partidos políticos, mas grupos interessados em manter o poder e dele desfrutar. Por isso insistimos: uma reforma política deve assentar-se em partidos empenhados em representar a sociedade civil, nos seus variados enfoques, ao invés de buscar, tão somente, o exercício do poder.

2 comentários:

  1. Evidentemente que partidos como psdb e dem não partilham desses princípios, pois são signatários do poder total, à revelia dos anseios da sociedade. Basta ver a política feita em SP, onde estão no poder ha´tanto tempo

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  2. Caro professor, o que temos? Temos um sistema partidário que representa, na mesma proporção, a vontade de seus representados. Sob a luz de uma imprensa livre que divulga, na mesma medida, os mal feitos, mesmo assim, os malfeitores voltam ao poder por via legítima, as eleições. Deste modo, quem precisa de reparos, sem, no entanto, ser pretensioso, ou, "ditador de comportamentos humanos" conforme o professor Goffredo Telles, é, com a devida vênia, a sociedade civil. Como? A educação é o caminho da liberdade que fortalece as virtudes cardeais e dá vigor a pedra angular das democracias.

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