O resultado das eleições presidenciais em nosso País, ao invés de traduzir a união dos brasileiros em torno de um ideal comum, enseja especulações sobre uma divisão sócio-cultural que está a merecer uma reflexão de vencedores e vencidos para que não se guarde no âmago das pessoas os germes de uma divisão incompatível com a pátria livre, pela qual os brasileiros têm lutado desde, praticamente, a conquista portuguesa.
É lugar comum dizer-se que o Brasil é um país de dimensões continentais e que por isso mesmo tem de conviver com as diferenças que a história nos foi impondo.
Não é porque este ou aquele, decepcionado com os resultados do último pleito eleitoral extravase seus sentimentos, subestimando a verdade dos fatos, que devemos deixar de aprofundar uma discussão que sempre foi escondida, jogada para debaixo do tapete, na sábia expressão do homem comum.
O Brasil é, dentro da América do Sul, um verdadeiro milagre, onde a unidade linguística e de costumes se impôs em um continente onde predomina o idioma o espanhol e a vida se desenrola segundo tradições peculiares.
O Brasil se abriu à imigração dos povos oriundos da Europa Ocidental e Oriental, e até daqueles que imigraram do Oriente Médio e do Oriente longínquo.
Essa mescla, primeiro do português, do índio e do negro, com aqueles que vieram depois, nos séculos XIX e XX, plasmou o brasileiro de hoje, cosmopolita e ao mesmo tempo orgulhoso de seu chão, de quantos aqui se encontram na tarefa comum de obter um lugar confortável na sociedade multinacional dos homens.
Não há dúvida de que, não obstante, atravessamos um momento difícil de nossa história, como conseqüência da exaustão a que se submetem Norte e Nordeste, na luta pela construção de uma sociedade estável do ponto de vista não apenas cultural, mas do desenvolvimento econômico, com a distribuição de bens que a unidade nacional deve proporcionar.
Foge, entretanto, desse contexto, a posição de quantos que – e nesse sentido não é possível concordar com a universitária da USP – partem para a violação de um dos direitos fundamentais, que é o da liberdade de expressão, insuflando vingança, até mesmo sangrenta, contra aqueles que não comungam de suas idéias. Trata-se de uma divergência que, embora se tenha tornado evidente na última eleição, em hipótese alguma pode ser levada a extremos, chegando a ferir direitos inalienáveis do homem.
Não se deve esquecer que aqueles que foram afastados de quaisquer possibilidades de sobrevivência, diante da realidade de se verem contemplados por um mínimo de poder aquisitivo, certamente se voltarão para quantos, não importam as motivações, nem sempre as mais humanitárias, direcionaram parte da riqueza nacional segundo as necessidades primárias do povo mais pobre.
Nada mais natural que as massas beneficiadas se situem nas regiões menos prósperas e por isso mesmo mais suscetíveis de serem manobradas, razão pela qual se impõe o cumprimento de uma segunda etapa, que há muito deveria ser cumprida, com serviços reais nas áreas da saúde e da educação.
Para a união dos brasileiros o trabalho será enorme e difícil, diante da falta de representatividade de um Congresso submisso, da maioria dos Estados na mesma situação e de um Judiciário pouco diferenciado dos impulsos da máquina governamental.
Assim, da mesma forma que se exige aos detentores do poder a responsabilidade para se alcançar a unidade que o presidente Lula ignorou, cabe à oposição a responsabilidade de buscar a unidade quase perdida, mediante o exercício de uma vigilância de todos os dias.
A acomodação solicitada pelo presidente é, sobretudo, antidemocrática, pois não devemos esquecer que a democracia inexiste diante da passividade em face de desmandos de quantos estão no poder, mesmo que o tenham recebido por forma democrática. A democracia somente subsiste diante da vigilância, ontem, hoje e amanhã.
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